Estou presente no XXXIV Congresso Interamericano de Psicologia, em Brasília, q se iniciou ontem e vai até a próxima sexta-feira (19). Hoje apresento meu trabalho sobre violência contra a mulher, onde traço um perfil destas no município em que resido. Aproveito para compartilhar com vocês o resumo do meu trabalho também como forma de chamar a reflexão da situação de violência contra a mulher.
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: UM PERFIL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde define violência como a
“imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”. Porém os
especialistas afirmam que a definição é muito mais ampla e diversificada. É
visível na sociedade a execução e ampliação da violência contra a mulher, tendo
todas suas tipologias entrelaçadas.
A expressão
‘violência contra a mulher’ foi adotada pelo movimento feminista há pouco mais
de vinte anos. Tal expressão refere-se as diversas situações de violência
vivida pelas mulheres, tais como violência psicológica, física, sexual, tráfico
de mulheres, mutilação genital feminina, etc. Com
uma maior independência da mulher e autonomia desta na participação social,
acreditamos ser inaceitável que a mulher ainda se submeta as atitudes
agressivas do companheiro ou de qualquer outro agente sem que busque seus
direitos evitando a repetição e normatização dos casos de violência. O uso da
violência física perpetrada pelo marido companheiro ou outro familiar, mais do
que por um desconhecido, tem sido apontado como a principal agressão exercida
contra a mulher, o que não quer dizer que essa violência não ocorra sem
articulação com as demais.
MÉTODO
Utilizou-se de métodos quantitativos e qualitativos. Enquanto
quantitativo utilizou-se dados do RQM (Relatório Quantitativo Mensal) elaborado
pelo próprio CREAS III, na parte qualitativa da pesquisa realizou-se um grupo
focal, com análise de conteúdo, com usuárias do CREAS III que se voluntariaram.
Como critério de inclusão, todas as mulheres entre 18 e 65 anos, voluntárias
foram sujeitos da pesquisa. Foi fator principal a vivência em situação de
violência por essas mulheres.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A mulher violentada sofre atravessamentos diversos, podemos destacar particularmente o lado emocional. Pode-se ver o quão construído socialmente é a soberania masculina, com um poder de dominação sobre as mulheres de origens antigas e mantidas por fortes processos históricos. Vê-se que nesse processo de violência a mulher acaba por se anular enquanto sujeito e enquanto possuidora de uma identidade e de uma autonomia de vida. Sua relação se baseia no medo, na coação e na submissão exercidas pelo agressor. Sabe-se que há um lado subjetivo muito forte dentro das relações de poder e que compõem intensamente a situação de violência.
Alguns dos
resultados apontam para 199 novos atendimentos no CREAS III no primeiro
semestre de 2012, sendo destes casos 39 reincidências e 5 revitimizações. Desse
total 156 foram atendidos devido a encaminhamentos e apenas 20 fizeram registro
de ocorrência. Em 166 casos as agressões ocorreram em âmbito doméstico. Na
maioria dos casos crianças e adolescentes presenciaram o ato de violência,
também havendo relatos em que foram alvo das agressões. A violência psicológica
foi amplamente identificada (136 casos), seguida da violência física (78 casos)
e sexual (13 casos).
CONCLUSÕES
É a psicologia, portanto, que vai poder dar conta desse campo
subjetivo, onde além de uma agressão, de um fato, há um fenômeno social e
familiar. É essencial o entendimento do contexto, estas mulheres não estão
apenas denunciando seu agressor. Denunciam o pai de seus filhos, o provedor, o
companheiro. Há uma teia relacional com o agressor. Por ser um tema vasto, é
necessário novos estudos com relação ao tema. Estudos no que tangem os aspectos
subjetivos implicados na situação de violência doméstica e/ou familiar. São
relevantes afim de alimentar novas e atuais práticas e embasar os trabalhos
realizados pelos psicólogos que atuam no campo das violências. É importante
ressaltar a necessidade de uma formação específica além da psicologia jurídica,
principalmente pelo campo da violência contra a mulher ser rico de detalhes e
estar atravessado a todo o momento por outros campos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário